quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Quando o ruído vira música

O titulo do post é autoexplicativo. Sendo assim, sem delongas, vamos ouvir alguns artistas que conseguiram transformar ruído em música.

Luigi Russolo
Esse inventivo compositor italiano foi quem deu o ponta-pé inicial nos trabalhos com ruído, chegando não só a criar instrumentos, mas também a escrever os manifestos A Arte do Ruído e Música Futurista. Influenciado pelo som das grandes cidades, sua obra pode até não ser sonoramente das mais agradáveis, todavia, sua estética inspirou nomes como Varèse, Pierre Schaeffer e inúmero produtores de música eletrônica e música de vanguarda.

John Coltrane
São muitos os músicos de prestigio da história do jazz que, em determinado momento de suas carreiras, mergulharam em experimentações ritmas e melódicas equivalentes a sons primitivos amontoados de forma caótica. Com isso, eles sofreram repúdio dos críticos da época, que consideravam tais experimentos sem propósito. Coloque neste pacote os geniais Miles Davis (em sua fase fusion), Sun Ra, Ornette Colleman (ícones do free jazz) e John Coltrane (nos seus últimos anos).

Glenn Branca
É verdade que o Jimi Hendrix já explorava a microfonia na guitarra, mas foi o influente Glenn Branca um dos primeiros a aplicar sem restrição o ruído no instrumento mais infernal por natureza. Sua nova abordagem musical fez escola e ganhou inúmeros admiradores (vide o Sonic Youth). Ícone da no wave.

Spooky Tooth & Pierre Henry
Em 1969, o Spooky Tooth, banda britânica de rock progressivo, gravou o disco Ceremony (1969) em "parceria" com o compositor de vanguarda Pierre Henry. Basicamente, Pierre pegou o som já gravado do grupo e fez a mixagem, colocando barulhos sobrepostos ao som da banda, transformando tudo num maravilhoso caos. A banda desaprovou, mas há quem goste (tipo eu). Curiosamente, tudo isso foi feito antes da criação do krautrock, vertente alemã do rock progressivo bastante influenciada pela música concreta e eletroacústica, sendo assim, naturalmente cheia de inserções ruidosas.

Lou Reed
Lou Reed já havia feito o caos sonoro com o Velvet Underground, banda que levou outros milhares de grupos (Stooges, por exemplo) a chutar o balde no quesito porradaria sonora. Mas até ai tudo era inegavelmente majestoso, ao contrário do nada ortodoxo Metal Machine Music (1975), onde não é possível encontrar nenhuma melodia, mas apenas microfonias e barulheira. Conceitualmente merece respeito. Musicalmente deixo a critério de cada um.

Einsturzende Neubauten
Esse experimental (e fantástico) grupo alemão nunca fez questão de soar acessível. Dentre tantos elementos que agregam ao som e, ao mesmo tempo, dispersam o público, está o ruído. Isso é o que dá usar chapas de metal, britadeiras, serrotes e utensílios domésticos como instrumentos.
Gostou? Procure pelo Throbbing Gristle.

Grandmaster Flash
A grosso modo, o scratch, técnica dos DJs que consiste em extrair sons "arranhando" o vinil, é um ruído. Mas escute a faixa abaixo e me diga se não é possível extrair belos ruídos dos toca-discos.

Merzbow
Merzbow é na verdade o japonês Masami Akita, um respeitado produtor de: noise music. Simples assim. Não é o tipo de som pra ouvir sempre, mas vale como pesquisa, que é (penso eu) a real proposta do trabalho. Se você ouvir e gostar, vale procurar o subgênero harsh noise. Pulse Demon (1995) é um "clássico".

Sonic Youth
Do rock alternativo formado por Pixies, My Bloody Valentine, Nirvana, Jesus And Mary Chain e outras inúmeras bandas que continham guitarristas barulhentos em sua formação, o Sonic Youth foi a que fez o maior esporro sonoro (principalmente ao vivo).

Rage Against The Machine
Tom Morello, um dos mais talentosos guitarristas da década de 1990, também usava sua guitarra como instrumento ruidoso. Todavia, o som que ele extrai se aproxima mais do Grandmaster Flash do que da geração do Sonic Youth.


Björk
Vale lembrar as produções glitch, que fazem uso de defeitos digitais do áudio para criar ruídos em meio aos arranjos. Na música experimental e eletrônica esse recurso é bastante comum (vide os trabalhos dos grupos Autechre e Oval). Na música pop lembro de algumas produções da Björk.

Burzum
Eis um exemplo dentre tantas produções lo-fi, onde o ruído não necessariamente faz parte da composição, mas do tipo de gravação propositadamente precária, que ajuda a ditar o clima da música. Esse tipo de estética é usada no black metal (Burzum), rap (Death Grips), rock alternativo (Guided By Voices) e punk rock (Half Japanese).

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