quarta-feira, 1 de maio de 2024

10 discos para curtir Minas Gerais

Tô indo pra Minas Gerais amanhã. Já fui há alguns anos, conhecer as cidades históricas (Ouro Preto, Congonhas, Brumadinho, Tiradentes, Mariana), mas agora vou circular por Belo Horizonte. Ir em botequins, comer desenfreadamente e tomar cachaça. É o melhor dos mundos.

Pensando nisso, selecionei alguns discos que me remete a Minas Gerais. Visão limitada, talvez estereotipada, mas nem por isso ótima. 10 disquinhos para sermos felizes juntos. Passe um café, procure uma receita de um bom pão de queijo e vamos nessa.

Milton Nascimento - Minas (1976)
Todo mundo já ouviu o Clube da Esquina, então vou deixar o disco de fora. Mas não os artista envolvidos! Por isso começo com Minas, que não bastasse o nome sugestivo, é dos meus prediletos do Milton Nascimento. Um álbum de desenvolvimento quase progressivo e que traz todo aquele sentimento barroco intrínseco a canção mineira. "Beijo Partido" tá um espetáculo aqui.

Lô Borges - Lô Borges (1972)
O cultuado "disco do tênis", lançado logo após o Clube da Esquina. Tem muito de rock psicodélico, mas na visão peculiar não só do Lô, mas também do Márcio Borges. É o que aconteceria se os Beatles fossem mineiros. Muito do que se ouve aqui de alguma forma vai desencadear no trabalho de outros artistas, do 14 Bis ao Skank. 

Som Imaginário - Matança do Porco (1972)
Durante uma época fui verdadeiramente obcecado por esse disco. Por sorte, tive a oportunidade de vê-lo sendo interpretado na íntegra pelo grupo. Talvez o grande trabalho de jazz-rock nacional. "Armina" ainda hoje me emociona. É uma cacetada.

Toninho Horta - Terra dos Pássaros (1979)
Um daqueles discos que, se vou fazer uma lista de álbuns prediletos da música brasileira, ele sempre tá lá. As harmonias, os arranjos, o lirismo... Toninho Horta é um compositor e guitarrista de outro mundo. Na verdade, é de Minas Gerais mesmo.

Tavito - Tavito (1979)
Cada vez que ouço, mais gosto deste disco. Tem toda a mineirice típica do seus conterrâneos, mas também caminha por outras áreas, intercalando momentos brejeiros com outros mais rockeiros. Vale dizer que o Sérgio Dias, Mamão e Jamil Joanes são alguns que tocam no disco.

Sepultura - Schizophrenia (1987)
Chega de Clube da Esquina, chegou a hora de adentrar o metal mineiro. Confesso que não sou tão entusiasta e conhecedor assim, mas consigo apontar minhas predileções. Sepultura é obviamente uma delas. Seria muito fácil botar o Chaos AD, então escolhi o Schizophrenia, que é bem mineiro ainda, mas já não é tão tosco quanto a época Bestial Devastation (que tem sua graça também). 

Sarcófago - INRI
Demorei pra gostar deste disco. Primeiramente só via graça. Depois entendi sua influência. Hoje acho uma cacetada impressionante pra época. Vale lembrar que saiu pela lendária Cogumelo. Se tudo der certo, irei lá no cemitério onde registrado a emblemática capa desse disco (e que anos depois o FBC também fez uma capa lá).

Sexo Explicito - Combustível Para o Fogo (1989)
Sim, eles também tem rock alternativo. O John Ulhoa, posteriormente Pato Fu, fez parte deste grupo. Acho o som tão arrojado quanto bizarro. Tem muito de Talking Heads. Eu adoro.

Skank - MTV Ao Vivo
Vou confessar: acho Skank ótimo, mas nunca coloco pra ouvir. Alguém em algum momento vai por, então acabarei escutando na rabeira. Dito isso, não tinha como deixa-los de fora, até porque esse Ao Vivo deles gravado em Ouro Preto tem um visual muito bacana. É o pop rock brasileiro no auge da forma e desempenho comercial.

DJ Anderson do Paraiso - Queridão
Pra finalizar, queria algo contemporâneo. Pensei no FBC e no Djonga, mas vou do DJ Anderson do Paraiso, um entre tantos artistas de funk que trouxe identidade para o ritmo produzido em Minas. A maneira como ele trabalha= as frequências e, até mesmo, a ausência de elementos dentro dos beats, é muito particular. Eu acho legal demais.

sexta-feira, 26 de abril de 2024

ACHADOS DA SEMANA: The Allman Brother Band,

The Allman Brother Band
Dickey Betts morreu. Numa dessas homenagens, o Biofá postou o An Evening With The Allman Brothers Band: First Set (1992). Fui ouvir pensando ser “apenas” mais um show da banda, mas deparei com performances não menos que arrasadoras. O que o Dickey Betts e o Warren Haynes tão tocando é um absurdo. Vale dizer que o baixista nessa época era o saudoso Allen Woody. Biscoito fino. Logo depois fui repassando os primeiros discos do grupo e cheguei a conclusão de quê eles são a melhor banda de rock norte-americana de todos os tempos. Simples assim

Alice Cooper
Muscle Of Love (1973). Entre os ótimos discos que o Alice Cooper lançou na primeira metade da década de 1970 (única fase que me interessa), está esse que, até então, ignorei por desatenção (ficou perdido no meio de clássicos). Se faltam hits, sobram boas canções. Embora não tenha a produção do Bob Ezrin, os arranjos de cordas/metais típicos do produtor ainda estão lá, assim como as ótimas guitarras do Glen Buxton. Talvez o disco mais glam do Alice Cooper.

Hawkwind
Febril, de cama, inventei de ouvir os dois últimos discos do Hawkwind com o Lemmy: Hall Of The Mountain Grill (1974) e Warrior On The Edge Of Time (1975, que inclusive tem a faixa “Motorhead”). Fiquei delirando ao som daquela massaroca psicodélica. Por incrível que pareça, me ajudou muito.

Judas Priest
Vi o Régis Tadeu falando (inclusive, algo que já tinha escutado de outras pessoas) que o Ram It Down (1988) do Judas Priest não foi gravado pelo Dave Holland, mas feito com bateria eletrônica. Entende-se disso que a bateria foi programada. Se verdade, foi um trabalho muito bem feito hein. Se tocado numa bateria eletrônica me parece mais normal. Agora, programar (sei lá em qual equipamento da época) me parece um feito e tanto, já que ela soa natural (não em timbres, mas em “ideias"). Inclusive, gosto dos timbres. São datados, mas charmosos e grandiosos. Pra um disco tão criticado, até que gostei do que ouvi. Até porque o K.K. Downing, Glenn Tipton e Rob Halford tão quebrando tudo (sem novidade).

Mountain
Twin Peaks (1974). Mais um disco que cheguei via um corte do Régis Tadeu. Esse ao vivo do Mountain é um deleite para quem gosta de guitarra rock setentista. E baixo também, com direito ao timbre ultra gorduroso/saturado do Felix Pappalardi. Ele usava fuzz? Parece uma motosserra. Imagine a pressão na frente do palco.

sexta-feira, 19 de abril de 2024

ACHADOS DA SEMANA: Steve Reich, Marvin Gaye, Plebe Rude, Aerosmith e Buffalo Tom

Steve Reich
Tem um álbum/compilação deste grande compositor contemporâneo no Spotify que traz parcerias com o Kronos Quartet (Different Trains) e outra com o Pat Metheny (Electric Counterpoint). A primeira eu gostei mais. Inclusive, tem elementos ali que remetem ao forró (creio eu, involuntariamente, a ideia era mais emular um trem). Já com o Pat me impressiona um guitarrista com a destreza dele sabe se portar diante de composições minimalistas que não necessariamente são a praia dele. Bonito ver um dos maiores improvisadores do instrumento abdicando da improvisação em prol de uma estética/composição. Não exatamente “bom”, mas interessante.

Marvin Gaye
Here My Dear (1978). Para mim isso é que é sofrência. Pai também do “triste e com tesão” no r&b. Discão, que se desenvolve num fluxo contínuo que o Marvin Gaye parece ser especialista em gerar. Fora que sua voz tá ótima (e sexy), os arranjos são irretocáveis, as linhas de baixo são elegantes, a guitarra é chorosa, a captação é calorosa… tudo certo.

Plebe Rude
Ainda naquela de procurar o que as bandas do rock brasileiro fizeram após explosão grunge, cheguei no Mais Raiva Do Que Medo (1993) da Plebe Rude, que só confirmou que eles são o melhor grupo daquela safra de Brasília. Canções certeiras, boas guitarras, gravação bacana… é um trabalho ultra recomendado para fãs do rock nacional.

Aerosmith
Permanent Vacation (1987). Após alguns anos de ostracismo, esse disco ajudou a colocar o Aerosmith no holofote do rock americano e, se pensarmos no hard rock do período, poucas bandas soavam tão intensas, orgânicas e setentistas quanto eles, ainda que cheio de refrões ganchudos/pop (longe disso ser um problema). Foi legal reouvir depois de anos (décadas?). Vale dizer que a produção é do Bruce Fairbairn em seu provável melhor trabalho. O fato de todos estarem tocando muito bem ajudou muito, né.

Buffalo Tom
Big Red Letter Day (1993). É curioso pensar que, embora esse disco fosse dos mais “polidos” e acessíveis daquela safra do rock alternativo, ele teve um sucesso moderado. Parece que ser barulhento e sujo fazia realmente mais sentido naquela época. Dito isso, tem grandes canções, calcadas em boas melodias e passagens de guitarra perfeitas para quem curte power pop.

sábado, 13 de abril de 2024

TEM QUE OUVIR: Tortoise - TNT (1998)

O post-rock já não era mais novidade no final na década de 1990. Entretanto, pouco grupos levaram essa ambição tão afundo quanto o Tortoise. Desprendido de estruturas conhecidamente atreladas ao rock, mas sem abrir mão da instrumentação e atitude intrínseca ao estilo, o grupo chegou ao seu auge criativo no cultuado TNT (1998).


Logo de inicio, o baterista/produtor John McEntire se coloca no centro de "TNT" através de um groove jazzistico, perfeitamente preenchido por guitarras arpejadas e um solo de corneta do Rob Mazurek. Tudo de forma improvavelmente acolhedora. 

Falando em guitarras, vale dizer que esse é o primeiro disco com o Jeff Parker e o último com David Pajo (ex-Slint). Vale lembrar também que, independente das inclinações de cada integrante, o grupo ficou caracterizado pelos músicos revezarem os instrumentos durante a construção das composições. Inclusive, a ideia de sobrepor gradativamente novos elementos, como obras inicialmente não fechadas, é outra peculiaridade deste trabalho.

Com manipulações de pós-produção em cima da sonoridade orgânica dos músicos, "Swung From The Gutters" em sua metade final soa como se o Miles Davis tivesse embarcado no krautrock.

Não é possível pensar "Ten-Day Interval" desconsiderando a música minimalista do século XX. Sua figura rítmica/melódica repetitiva na marimba (invocando um tempero oriental), alimenta tudo que à cerca. 

O cinematográfico/bucólico violão na abertura de "I Set My Face To The Hillside" inicialmente guarda certa brasilidade. Todavia, quando melodia é entoada na guitarra (e com trêmulo) ela ganha um ar "italiano". Uma espécie de gaita só acentua essa percepção. Ennio Morricone manda um abraço. Sua metade final toma um caminho gracioso.

Não sei o quanto os caras do Radiohead ouviram esse disco, mas "The Equator" prevê algumas sonoridades eletrônicas que o grupo britânico viria a explorar. Por sua vez, "A Simply Way To Go..." parece ter um raciocínio de elaboração da música eletrônica, só que fazendo uso de instrumentos convencionais.

A concepção de "The Suspension Bridge at Iguazú Falls" (se ligou no nome?) revela muita inspiração e capacidade técnica - a polirritmia hipnótica de "Four-Day Interval" não me deixa mentir sobre os conhecimentos formais do grupo -, englobando diferentes texturas e climas em seu arranjo muito bem desenvolvido. Adoro as guitarras, o synth e a percussão latina.

Com uma progressão de acordes iluminada, ritmo discreto de house, violão de nylon e slide guitar, "In Sarah, Mencken, Christ, and Beethoven There Were Women and Men" não se parece com nada. Na verdade soa como seria o lounge se ele desse certo.

Em seu final, o disco dá um mergulho no eletrônico, vide a estranha "Almost Always Is Nearly Enought", o longo drum and bass-orgânico de "Jetty" e a derradeira "Everglade", com sua aura inebriante que fica entre o ambient e o jazz. Tipicamente post-rock.

Mais um detalhe que vale mencionar é a icônica capa do disco. Um desenho simples (no total estilo Daniel Johnston), mas que virou um emblema pra banda.

Embora cheio de inventividade, a criação parte de um conceito muito bem formulado, o que torna a audição do álbum uma agradável e fluída experiência. Fazia tempo que o (post-) rock instrumental não proporcionava isso.

domingo, 7 de abril de 2024

ACHADOS DA SEMANA: Alceu Valença, Sarah Vaughan, Inocentes, Os Replicantes e Noporn

Alceu Valença
Cinco Sentidos (1981). Acho curioso como aprendemos a naturalizar o som do Alceu, que se analisado racionalmente, é uma mistureba maluca. Composicionalmente tem o pé no forró, mas se desenvolve com trejeitos de reggae, atitude (e guitarras) de rock e apelo pop nacional. Isso tudo com carisma, naturalidade e uma banda de apoio sensacional (Paulo Rafael, Mu, Wilson Meireles, Antonio Santanna, dentre outros). Pra ouvir na boa, fazendo um rango, tomando uma cerveja, em família.

Sarah Vaughan
Semana passada foi comemorado (nem tanto o quanto se devia) o centenário do nascimento da Sarah Vaughan. Em casa separei para ouvir seu disco lançado em 1955 em parceria com o trompetista Clifford Brown. É uma performance vocal mais exuberante que a outra. Afinação, timbre, dicção, vibrato (por vezes até “exagerado”), capacidade de improvisar… que cantora! Vale ainda dizer que o baterista é o grande Roy Haynes (sempre ele!).

Inocentes
O raciocínio foi simples: o que os Inocentes, uma das bandas mais legais do punk rock nacional, estavam produzindo na época grunge? Cheguei no disco Subterrâneos (1994), muito menos “punk” e bem mais rock n’ roll. Tem até algo de hard, mas não hard 70 ou farofa, tá mais pra um hard… Soundgarden. Isso, claro, com uma produção mais simples e abordagem mais crua. Ótimas guitarras e baixos (inclusive, acho que era o Mingau nessa época). Álbum bem legal.

Os Replicantes
O Futuro É Vortex (1985). Falando em punk rock nacional, lembrei deste clássico. Dos discos mais divertidos, inspirados e espontâneos daquela safra do rock brasileiro. Simples assim. Muito legal reouvir e perceber que ele não perdeu a força.

Noporn
Noporn (2005). Conhecia o Noporn só de nome. Fiquei sensibilizado com a quantidade de pessoas que lamentaram a morte da Liana Padilha, apontando sua importância para a cena eletrônica brasileira. Embora o som do duo não seja minha praia (principalmente devido o “canto falado”), gostei da produção (inclusive, assinada pelo Dudu Marote) e me intrigou como o grupo não conseguiu quebrar a barreira do cenário alternativo, sendo que ao abordar temas contemporâneos envolto aos gêneros, poderia ter hypado muito mais. Destaque para “Janelas” (com guitarras do Scandurra). Várias faixas caem bem na pista.

sexta-feira, 29 de março de 2024

TEM QUE OUVIR: The Isley Brothers - 3 + 3 (1973)

Um dos grupos de maior sucesso na história é o The Isley Brothers. Sucesso esse representado pelo êxito comercial e artístico. Os Beatles regravaram "Twisted & Shout" por conta deles, o Ice Cube os sampleou… não é pouca coisa.

Surgido ainda na década 1950, enquanto um trio vocal - Ronald Isley, Rudolph Isley, O'Kelly Isley Jr. -, eles ajudaram a moldar o r&b, soul, funk, gospel e rock. Já na década de 1970, com dez álbuns e diversos singles na bagagem, somou-se ao trio original dois irmãos mais novos e um intruso - Ernie Isley, Marvin Isley e Chris Jasper -. 3 + 3 (1973), o primeiro lançamento do grupo pela Epic, inaugurou essa fase - o titulo do álbum faz referência a essa nova formação -, renovando a sonoridade, o público e colocando-os no centro da música norte-americana.


A capa do disco já revela o caráter de instrumentistas dos integrantes agregados. Numa época onde as gravadoras tinham bandas de apoio para produzir o instrumental de seus artistas - principalmente na soul music -, isso foi um enorme diferencial, que deu ainda mais autoridade e personalidade ao grupo.

Logo de cara em "That Lady", a guitarra chorosa e ácida do Marvin - embebida em fuzz e completamente influenciada pelo Jimi Hendrix -, aponta os rumos desta nova fase. Isso enquanto o gigante Ronald traz sua voz tão aveluda quanto aguda, de charme arrebatador. Um clássico.

É incrível a interseção do Isley Brothers com a música pop/folk/"branca" do James Taylor na versão de "Don't Let Me Be Lonely Tonight". Uma performance apaixonada, ressaltada por um arranjo/captação que dá espaço para cada instrumento. Soberbo. 

De ritmo pulsante, poderoso som de clavinet e refrão irresistível, "If You Where There" é uma aula de bom gosto pop.

Há uma magia solar em "You Walk Your Way", canção de excelente melodia, progressão de acordes inteligente, ótima linha de baixo (do Marvin) e com os tremendos arranjos vocais que tão bem caracterizaram o som do grupo no início.

O groove de "Listen To The Music" (sim, aquela mesmo orginalmente do Doobie Brothers) ganha aqui sua forma mais azeitada. Violão, bateria, clavinet, órgão... todos transbordam swing. 

O que o Ronald canta em "What It Comes Down To" (e justiça seja feita, seus irmão também no refrão) é uma loucura. Não por acaso a canção fez enorme sucesso.

Vale lembrar que o Robert Margouleff e o Malcolm Cecil, ao mesmo tempo que desenvolviam o trabalho com o Stevie Wonder, também compartilhavam seus dotes de engenharia de áudio e conhecimento de equipamentos eletrônicos com os Isley Brothers, vide o uso de sintetizadores por todo o disco, mas com destaque para "Sunshine (Go Away Today)". É uma cacetada soul.

Entre os principais hits do grupo está "Summer Breeze", originalmente gravada pelo Seals and Crofts, aqui uma elegante balada ao piano, acentuada por uma guitarra cortante (e com um solo épico ao final), mas acima de tudo, interpretada vocalmente com técnica, emoção e elegância. 

A capacidade composicional do grupo é colocada acimada de qualquer aprovação na derradeira "The Highways Of My Life", linda em texto, melodia e harmonia. Fora a performance matadora de piano e moog (Chris Jasper) e baixo (Marvin). 

Muitos grupos passaram por diferentes fases, mas acho que o Isley Brothers é dos raros casos em que a segunda se sobressaiu a primeira. A comprovação desta tese está aqui.

ACHADOS DA SEMANA: Nelson Freire / Chopin, Jim Hall, Elvin Bishop, Paralamas do Sucesso e Devotos

Nelson Freire / Chopin
Tenho para mim que um dos primeiros compositores eruditos que tive algum apreço foi o Chopin. O fato dele compor para piano (instrumento rico e adorável) e ser um tremendo virtuoso ajuda muito. Paralelo a isso, lembrei do Nelson Freire, facilmente um dos maiores e melhores instrumentistas da história deste país. Logo, fui ouvir sua interpretação para Sonata No. 3 in B Minor. Tem um disco de 1972 com esse registro. É um espetáculo. Tão técnico quanto lírico.

Jim Hall
Where Would I Be? (1971). Jim Hall, um dos maiores guitarrista de todos os tempos (do primeiro escalão no jazz), aqui num disco com certa influência brasileira, o que se manifesta inclusive pela presença do Airto Moreira (bateria e percussão). É maravilhoso. Interessante analisar o timbre da guitarra, ultra “fechado”, preservando/ressaltando a característica acústica do instrumento, talvez até buscando emular um violão de nylon. Dito isso, um show de performance de todos os envolvidos.

Elvin Bishop
Conhecia esse ótimo guitarrista somente pelo trabalho ao lado da Paul Butterfield Blues Band. Mas cai num disco solo dele, o Let It Flow (1974), e gostei bastante. Tem aquela sonoridade bem americanizada, principalmente ao fundir o blues com a música country. Vale dizer que Charlie Daniels, Dickey Betts e Sly Stone são alguns que participam do trabalho. Na sequência ainda ouvi o Big Fun (1988), que até pela época me soa como uma fase “decadente do blues”, embora tenha sido lançado pela Alligator Records, que na época bombou via artistas como Robert Cray e Albert Collins. Mas sei lá, essa sonoridade oitentista não combina tanto com o blues e, ainda assim, por soar “deslocado”, também tem seu charme. Ambíguo, não?

Paralamas do Sucesso
Severino (1994). Aquele típico disco que a crítica não gostou, que não foi grande sucesso comercial, mas que os fãs e os próprios artistas adoram. Se por um lado não tem interligação nenhuma com o movimento grunge do período, há muito com o rock latino e com a música nordestina. Isso sob produção do Phil Manzanera. Brian May participa numa faixa. Não amo, mas gosto.

Devotos
Uma lei tornou o Devotos patrimônio cultural do Recife. Já eram antes disso, mas não deixa de ser um reconhecimento importante. Banda histórica do punk rock nacional. Logo, fui rever o Agora Tá Valendo (1997), de quando eles ainda assinavam como Devotos do Ódio. É cru, feroz e cheio de personalidade. Acho embaçado.